terça-feira, 8 de novembro de 2011

Métodos de Investigação

I.            METODO DESCRITIVO

O objectivo do Método Descritivo é a caracterização das variáveis envolvidas no fenómeno ou acontecimento. Assim, é possível que a caracterização das variáveis em estudo sugira relação entre elas, mas este método não procura determinar a natureza de tal relação.
O método descritivo é particularmente utilizado em novas áreas do saber, em que os investigadores procuram identificar os principais factores ou variáveis existentes numa dada situação ou comportamento.
Apesar das suas limitações, o método descritivo é frequentemente utilizado quando por razões de ordem ética ou devido à natureza dos fenómenos não é possível estudar ou recorrer a métodos mais rigorosos e precisos.
Os métodos descritivos recorrem a vários tipos de procedimentos para a obtenção de dados:
1. Enumeração
2. Observação Naturalista
3. Estudo de caso
4. Investigação de Campo

1. Enumeração

Recorre à contagem ou frequência de acontecimentos de um
dado fenómeno. Em termos metodológicos, este tipo de descrição é a forma mais primitiva e elementar de investigação. Por exemplo: Contar o nº de alunos que estão inscritos no Curso de uma Universidade.
É possível utilizar esta técnica para prever determinados aspectos do futuro.
Apesar de ser uma técnica elementar, se os métodos de
medição dos fenómenos a estudar forem precisos e rigorosos, a
enumeração pode ser tão científica como a maior parte dos
estudos experimentais.

2. Observação Naturalista

Consiste numa técnica de natureza descritiva que envolve a
observação e medição do comportamento dos sujeitos em meio
natural, pelo que os sujeitos são observados sem limitações de
movimento ou acção.
A realização de observação naturalista obedece a 2 critérios:
 1. O observador deve registar e medir os fenómenos e comportamentos em meio natural, sem os deslocar para locais estranhos ao seu habitat.
 2. O observador não deve influenciar, interferir ou manipular os acontecimentos e organismos sobre a observação.

A observação naturalista, enquanto técnica descritiva, apresenta 3 funções importantes:
• Permite a obtenção de resposta para uma dada pergunta. Por exemplo: Qual o tipo de interacção entre crianças na escola?
• Permite o esclarecimento das relações entre fenómenos e permite a descoberta/ formulação de hipóteses a serem mais tarde verificadas em investigações correlacionais e experimentais. Por exemplo: A observação de traços agressivos nos alunos permite o levantamento de hipóteses que poderão ser ou não validadas utilizando outros métodos como o método experimental ou o correlacional.
• Permite investigar questões que por razões práticas e éticas não podem ser sujeitas a investigações experimentais.
Esta técnica utiliza o plano de observação: Quando se observa um fenómeno, o número de acontecimentos é tão variado e rápido que o observador necessita de um plano de observação que permita a selecção do que se quer observar.
Este plano inclui os itens ou variáveis a observar pelo que a sua selecção deve ser feita com base no objectivo do estudo. Os itens devem ter exclusividade mútua (cada item só pode ser englobado numa categoria) e a definição das categorias deve ser clara e precisa. Por exemplo: Plano de Investigação simples.
Cada observador pode observar entre 8 a 10 pessoas. Quando não é possível utilizar um plano de investigação (observação), utiliza-se uma" câmara de vídeo, e mais tarde analisa-se ao pormenor a gravação.

CARACTERISTICAS DA OBSERVAÇÃO NATURALISTA

Uma das primeiras definições de observação naturalista considera-a como uma observação do comportamento dos indivíduos nas circunstâncias da sua vida quotidiana, sem controlo experimental (Fraisse, 1979). A observação naturalista é fundamentalmente o «estudo de um fenómeno no seu meio natural, com o objectivo de encontrar respostas para perguntas, relações entre factos ou para estabelecer «biografias» de comportamentos a partir daquilo que o observador vê.
A técnica de observação naturalista caracteriza-se fundamentalmente por 4 grandes linhas orientadoras:
1. Não é uma observação extremamente rigorosa ou selectiva - o observador procede a uma acumulação de dados, pouco selectiva, mas passível de uma futura análise.
2. Tem como preocupação a precisão da situação, isto é, a apreensão de um comportamento inserido na situação em que se produziu, a fim de se reduzirem ao mínimo as dúvidas referentes à sua interpretação.
3.    Pretende estabelecer «biografias» compostas por um grande número de unidades de comportamento que se fundem umas nas outras.
4.    A continuidade é um dos princípios de base que possibilita uma observação correcta não podendo fazer interpretações meramente circunstanciais mas inseridas num todo contextual.
A observação naturalista encontra na Etologia (estudo do comportamento animal) a sua razão de ser - explicar o «porquê» e o «para quê» dos acontecimentos através do «como», ou seja, do que aconteceu.
Foi alargada a observação do comportamento humano através dum ramo designado Etologia Humana. Neste campo, a observação naturalista procura ou funciona como um sistema de registo de dados, procurando:
a)- que o observador registe tudo o que acontece num dado momento, sem pensar na maior ou menor importância que os acontecimentos poderão ter nesse momento – esta análise só deverá ser feita posteriormente ao registo;
b)- O observador não deverá ser influenciado pela sua própria observação ou avaliação do que está acontecendo no momento de registo.
A uma das regras fundamentais da observação naturalista é o cuidado que o observador deve ter na Formulação de Inferências. Estas não deverão acontecer com actos isolados mas somente se este verificar uma reprodução continuada ou múltipla de dado comportamento ou resposta.




3. Estudo de Casos

Consiste numa técnica semelhante à observação naturalista, que não tem por objectivo manipular as variáveis ou estabelecer relações entre elas, pretendendo descrever de um modo preciso os comportamentos de um indivíduo, o qual é o nosso foco de atenção.
O grau de investigação do observador é superior às observações naturalistas, mas o local de observação é menos natural. O estudo de caso é também utilizado para explorar hipóteses anteriormente formuladas.

4. Estudos de Campo

Situam-se entre a observação naturalista e a investigação laboratorial, pois existe algum controle sob o meio ambiente do indivíduo. Os estudos de campo são efectuados em meio ambiente real, evitando o artificialismo de alguns estudos laboratoriais. Além disso, focam aspectos mais específicos do comportamento que os estudos observacionais.
A expressão "estudo de campo" inclui várias técnicas que apesar de terem uma base comum, diferem em vários aspectos. Entre estas técnicas temos as entrevistas, as sondagens, os questionários, entre outras utilizadas em situações específicas.

Virtudes e Limitações do Método Descritivo

Os procedimentos metodológicos referidos são apropriados para descrever acontecimentos ou fenómenos em determinadas situações, sendo também utilizadas nas fases iniciais da investigação com caris exploratório, permitindo descrever ou percepcionar relações entre factos.
As limitações deste método prendem-se com a impossibilidade de se estabelecer relações causais entre as variáveis, devido ao controlo mínimo existente, embora seja possível estabelecer relações associativas (ex. Freud que atribuía os lapsos linguísticos a desejos inconscientes recalcados).
Outra limitação é a fraca representatividade (qualidade do caso) dos dados, que não podem ser facilmente generalizadas. Outra dificuldade a registar é a replicação dos dados que também apresenta dificuldades de realização.

II MÉTODO DIFERENCIAL

O investigador observa dois ou mais grupos, que se encontram diferenciados com base numa variável pré-existente. Desta forma quer os grupos sejam seleccionados de acordo com uma variável qualitativa ou quantitativa, a variável responsável pelas diferenças grupais já existe antes da investigação se iniciar. Por exemplo: aplicação de uma prova de memória a dois grupos de sujeitos divididos com base na variável sexo.
Sexo - Variável independente, ou seja, a variável responsável pela distinção dos grupos.
Desempenho de Memória - Variável dependente.
Na investigação diferencial a variável independente não é manipulada pelo investigador como na investigação experimental, mas apenas medida, pelo que não é possível ir além do grau e direcção de relacionamento das variáveis estudadas. Neste sentido, a investigação diferencial, é conceptualmente semelhante à investigação correlacional.
No entanto, importa salientar que, ao nível estrutural, a investigação diferencial apresenta várias semelhanças com a investigação experimental:
a)- Em ambos os casos, há dois ou mais grupos definidos através da presença de uma variável independente.
b)- Por outro lado, os valores das variáveis dependentes são obtidos em todos os sujeitos de cada grupo e a avaliação das diferenças entre grupos é feito recorrendo aos mesmos testes estatísticos da investigação experimental.

II.           MÉTODO CORRELACIONAL

Nem toda a investigação em Psicologia e Educação se orienta pelo modelo experimental pois existem investigações que não possuem estes graus de controlo, de rigor ou de causalidade inerente às relações encontradas entre variáveis do método experimental, seja por razões éticas seja por condicionalismos vários da prática profissional ou da natureza dos fenómenos e das variáveis em presença.
Nestes casos, existem outros modelos de investigação alternativa ao paradigma experimental utilizados pela Psicologia, como seja o caso do modelo de investigação correlacional/método diferencial, ou como os estudos qualitativos.
O modelo correlacional situa-se entre os métodos descritivos ou compreensivos da realidade (estudos qualitativos) e os estudos experimentais.
Em relação aos estudos qualitativos, o método correlacional permite ir além da mera descrição de fenómenos, pois permite o estabelecer de relação entre variáveis, quantificando essa relação, embora não consiga atingir o significado de     causalidade          das relações encontradas nos estudos experimentais.
A nível estatístico, o obtido é o índice de correlação (r), que assenta em 2 parâmetros:
a) A direcção;
b) O grau de relação entre as variáveis estudadas;
No que diz respeito ao grau, este apresenta valores que podem variar entre o (-1) e o (+ 1), pelo que quanto mais as variáveis estiverem relacionadas entre         SI, mais o valor do coeficiente/índice de relação se aproxima de 1 (positivo ou negativo). Por outro lado, se não existir qualquer tipo de relação entre as variáveis, o grau de relação aproxima-se de zero.
Para além do coeficiente de correlação, também podemos ter o coeficiente de determinação, que é obtido elevando ao quadrado o coeficiente de correlação (r 2). Por exemplo: Se, r = 0.6, r 2 = 0.36 = 36%. Isto significaria que 36% de variância da 1ª variável pode ser prevista a partir do conhecimento dos valores da 2ª variável.
Como tal, o coeficiente de determinismo é um coeficiente de previsibilidade e não um coeficiente explicativo da relação entre variáveis.
A utilização do método correlacional permite, através do coeficiente de correlação entre variáveis obtermos a determinação, ou seja, a percentagem de variância de uma variável previsível através dos resultados de outra variável, ou variância conjunta de variáveis.
Embora estejamos perante um coeficiente de previsibilidade e não um coeficiente explicativo da natureza de relação entre variáveis, a correlação assume-se como um dos aspectos da causalidade, pois para que uma variável ou fenómeno seja causa de outra(o), os seus valores devem encontrar-se associados.
Desta forma, como não manipulamos sistematicamente todas as condições ou valores das variáveis, não podemos avançar para explicações do tipo causal.
No entanto, a existência de relação entre estas é considerada satisfatória, especialmente em estudos exploratórios ou condicionados por razões éticas e profissionais, para além da causa do próprio fenómeno.

Nota:
Reside aqui a grande diferença entre o Método Experimental e o Método Correlacional.
Os estudos correlacionais permitem o estabelecimento de previsões mas é errado pensar que o índice de correlação fornece uma prova de causalidade, pois a determinação de causa de um fenómeno só é possível na investigação experimental.


III.      MÉTODO EXPERIMENTAL

É considerado a investigação científica por natureza, sendo a meta máxima «isto é, qualquer estudo, pois permite a produção e avanço do conhecimento científico em qualquer área do saber.
Um plano verdadeiramente experimental é definido por três
aspectos:
a)- assegura a manipulação da variável independente e a fixação dos seus valores;
b)- Implica dois ou mais níveis de valores na variável independente com o fim de variar os efeitos da variável dependente;
c)- A amostra utilizada é escolhida ao acaso, com grupos aleatoriamente escolhidos. O objectivo destes estudos é que a variância dos resultados da variável independente seja exclusivamente ou o mais possível, associada aos valores assumidos pela variável independente.
Desta forma, é importante o controle das variáveis parasitas associadas ao investigador, contexto e sujeitos:
A. Investigador.
Atitudes e expectativas; aspectos pessoais ou sociais (ex.: etnia diferente);
B. Contexto
Condições do ambiente (ex.: luz, temperatura, ruido); condições da experiência (instruções, espaço físico, etc.).

Sujeitos
Características pessoais e sociais.

o controle da investigação deve abordar as variáveis
independente e dependente
:

Controle da variável independente:
Consiste na manipulação da variável pelo investigador, e na selecção dos sujeitos de acordo com os seus valores (ex.: sexo, classe, etc.).

Controle da variável dependente:
Consiste no controle da medida, rigor da medida, qualidade métrica dos instrumentos, etc.
No que diz respeito às variáveis parasitas, o objectivo consiste em eliminar ou igualar a possível influência de variáveis alheias aos objectivos da investigação e, desse modo, tentar assegurar que os efeitos da variável dependente possam ser exclusivamente atribuídos à variável independente.

Dificuldades do Método Experimental:

• Falta de controlo fora do quadro laboratorial que pode originar menores graus de rigor e causalidade;
• Dificuldade no controle de todas as variáveis envolvidas;
• Existência de questões éticas e condicionalismos de ordem profissional;

2 comentários:

  1. Muito obrigada, estava a meio de um trabalho, completamente baralhada e esta leitura revelou-se profícua. obrigada

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  2. . eu não encontro quase nada do que pretendo

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